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11 de abr. de 2012

Einstein: gerente de projetos

Por: Israel Bovolini Jr
Em: http://www.tiespecialistas.com.br/2012/03/einstein-gerente-de-projetos/



Recebi algumas mensagens referentes ao último artigo (Carreira: Reclamar é preciso(?)) sobre a frase de Albert Einstein no final, dizendo que nunca pensaram que uma pessoa que nunca foi do meio técnico poderia ter expressado algo tão próximo à realidade de projetos. Todos conhecem pelo menos por nome este grande físico alemão, por muitos (eu inclusive) considerado um gênio. Além de todas as contribuições que ele fez para a física e a compreensão científica em geral, este homem é autor de algumas frases que deveriam definir nossas vidas, senão nossas carreiras. Compartilho mais algumas com vocês:

Confusão de objetivos e perfeição de meios parecem, em minha opinião, caracterizar nossa era.
Isto foi proferido há mais de 50 anos, e no entanto parece que foi escrito para nós, não? Traduzindo para o meio profissional, vejo uma série de pessoas com a mesma pergunta: “Qual você acha que deve ser meu próximo passo? Certificação XPTO, curso de Esperanto ou Expressão Corporal para Líderes?”. A esses eu respondo: “O que você quer ser quando crescer?”. Uma certificação, um curso, um seminário, deve ser um MEIO, não um OBJETIVO. Se você se propõe a fazer um treinamento com o objetivo de obter um pedaço de papel provando que você sabe determinado assunto, você está se preocupando com o meio. Você está limpando o nariz que está escorrendo, e não atacando a H1N1 que está em você. É a mesma coisa quando um projeto está atrasado por causa de tecnicalidade: “Ah, devemos usar o método Bolinha ou o Quadradinho? Vamos marcar uma reunião para daqui a 15 dias para discutirmos qual deles”. Espera só um pouquinho; qual é o objetivo do projeto? Ser o mais elegantemente desenhado ou RESOLVER O PROBLEMA? Não ignore os meios, mas não deixe que eles se tornem seu objetivo.

Intelectuais resolvem problemas; gênios os prevêem.
INFELIZMENTE, em nosso meio, estou vendo esse tipo de profissional proliferar: aquele que percebe que o circo está embebido em gasolina, tem um boteco que vende fósforos baratinhos do lado, e pensa: “Hum, ACHO que TALVEZ esse circo vai pegar fogo. Vou ver com os outros o que a gente pode fazer, daqui a dois dias, porque se não pegar fogo, o culpado serei eu por espalhar notícia falsa”. Se você vê que algo vai dar errado, ou se você vê que algo pode melhorar, não fique quieto. Se antecipe aos problemas. Faça diferença, isso só conta pontos pra você nesse mar de lemingues que correm pro penhasco.

Eu não tenho nenhum talento especial. Só sou apaixonadamente curioso.
Característica a ser desenvolvida: curiosidade mórbida. Sim, ela matou o gato, mas também gera aquela idéia estupidamente brilhante de tão simples, e faz a gente se perguntar por que não pensou naquilo antes. Ou ainda usar um conceito que você aprendeu completamente fora do meio técnico, mas que pode salvar um projeto. Sempre pergunte “E se eu fizer <método diferente aqui>…?”, mas tenha a sensatez de abandonar um caminho que não dá em nada.

Um homem deve olhar para o que é, e não para o que deveria ser.
Quantas vezes um projeto descamba porque nos preocupamos SOMENTE com o resultado final? Não temos bolas de cristal, não dá pra prever tudo o que vai acontecer durante um projeto, e muitas vezes vejo os envolvidos só olhando pro final, sem perceber que em TI absolutamente TUDO deve seguir um padrão. Não adianta implantar uma nova metodologia sem saber se a empresa está preparada para isso, nem adianta forçar um processo no cliente se culturalmente ele não está pronto. OBSERVE o que ocorre HOJE, e o que deverá ser o AMANHÃ, para projetar o seu caminho com mais segurança.

Qualquer tolo inteligente pode fazer as coisas maiores e mais complexas. É necessário um toque de gênio – e um bocado de coragem – para se mover na direção oposta.
Percebo uma febre de metodologias tomando forma no mercado; a cada dia surge um método novo de desenvolvimento, que APARENTEMENTE agiliza ou torna mais seguro um projeto, mas que na realidade só serve para engordar a conta de algum instituto. A meu ver, o problema com metodologias reduz-se a um simples fato: empresas e projetos são diferentes, e a metodologia busca enquadrar todos em um mesmo padrão. O que estou chamando de “direção oposta” não significa abandonar métodos, pois isso significa caos e tragédia, mas sim aplicar o BOM SENSO na condução de um projeto. Se um cliente é culturalmente contra o processo que você está tentando implantar, a tarefa de adaptar o processo é sua, e não do cliente. Nenhuma metodologia é um conjunto de dogmas, o que deve ditar o que vai ser implantado ou não é a necessidade, não a elegância da forma. Lembre-se: OBJETVOS, não MEIOS.

Quem nunca cometeu um erro nunca tentou nada novo.
Complementando a idéia acima, muitas vezes temos que recuar; nem sempre estamos certos, e o método mais celebrado do mercado pode não funcionar em uma determinada situação. Exemplo prático: se você tentar implantar um PMO em uma empresa familiar, excessivamente dinâmica, cujos processos não são bem definidos ou inexistentes (<sarcasmo>Nossa, existe empresa assim?</sarcasmo>), você corre o risco de se tornar sócio da loja de anti-ácidos mais próxima, e de seu projeto afundar. Quem sabe não vale a pena você OUSAR fazer algo diferente, e tentar um método, digamos, mais brando e adaptável ao cliente? Lembre-se: quem paga a conta normalmente manda. E quem sabe atender BEM o cliente normalmente ganha mais. Foi-se o tempo em que o objetivo era entregar um software, vivemos em uma era em que se deve entregar uma EXPERIÊNCIA, deve-se ENCANTAR o cliente, não só satisfazê-lo.

Diante de Deus, todos somos igualmente sábios – e igualmente tolos.
Einstein era ateu: fato. Era um gênio: mais um fato. No entanto vivia junto a seus alunos, no mesmo nível em que frequentava reuniões internacionais com cientistas e diplomatas de diversos níveis. Reconhecidamente tinha uma vida regular, de rendas normais. Como uma pessoa assim consegue viver? Fácil: reconhecendo que não é melhor nem pior que ninguém. Não trate seu cliente/usuário como se fosse um inferior: lembre-se que é dele que você quer o dinheiro. E principalmente não se atenha só ao dinheiro. Hoje vale muito mais a pena um cliente encantado que divulga seu trabalho do que um único projeto que te renda bastante. Seja humilde, mas não seja subserviente; você tem direito a dizer não, mas por favor explique o porquê do não.

A força sempre atrai homens de baixa moral.
Já viu um bebê tentando encaixar figuras geométricas em um quadro? Temos cubos, quadrados, triângulos, etc. Se o bebê não consegue encaixar determinado objeto em determinado buraco, ele vai tentar forçar até que o objeto entre. Fatalmente, ele vai entrar, mas a custo de quebrar o objeto ou deformar o buraco. Esse paralelo pode ser traçado com o GP que tenta forçar uma situação de maneira violenta. É mais fácil que convencer ou persuadir o cliente, mas vai deformar o relacionamento existente, e nesse mundo um relacionamento comercial quebrado gera uma onda de fracassos para o futuro. E homens de baixa moral normalmente apelam para o lado mais fácil: a força. Seja convincente, trabalhe seus argumentos, não tente forçar uma situação; é mais trabalhoso, mas gera resultados seguros. O cliente não é aquele “<palavrão aqui> que não sabe o que quer”. Ele sabe, mas não sabe explicar. Compreender a mensagem, nesse caso, compete ao receptor. Seja firme, mas não seja intransigente ou violento.

A maioria das pessoas diz que é o intelecto que faz um grande cientista. Estão errados: é o caráter.
Eu acrescento que não só um grande cientista, mas um grande <coloque o cargo aqui>. Se você não tem caráter, faça um favor ao mundo e busque não se relacionar com ninguém. Afinal de contas, uma pessoa sem caráter necessariamente é egoísta, então por que você precisa se relacionar com os outros? Você é suficiente para você. Pode soar agressivo, mas é real. Já parou pra pensar por que o oceano é tão grande? Porque ele está abaixo do nível de todos os rios. Mesma coisa com o GP com caráter: ele é humilde sem ser submisso, ele acolhe ao invés de hostilizar. Seu analista fez um grande trabalho? Reconheça-o publicamente, ele se esforçou pelo projeto! Seu analista cometeu um engano? Chame-o em particular e explique o ocorrido. Isso demonstra o seu caráter. Claro que todos os profissionais conscientes querem crescer, mas ao invés de pensar que seu analista quer o seu lugar (o que deve ser verdade), pense que ambos estão escalando uma parede, e que se um cair o outro vai junto, mais cedo ou mais tarde; mas pense também que se os dois não subirem juntos, a escalada nunca é terminada. E por favor resista a tentação de usar os outros como escada. O primeiro que perceber essa situação vai fazer o possível pra te puxar pra baixo.

Duas coisas são verdadeiramente infinitas: o Universo e a estupidez humana. E não estou tão certo quanto ao Universo.
Fato: somos egocêntricos. É uma característica evolutiva, o homem só passou a se relacionar com outros porque isso aumentava as próprias chances de sobrevivência. E o egocentrismo é um dos aspectos da burrice; você pode achar que o mundo está aí para te servir, mas se todos os outros também pensam o mesmo; que impasse, hein? E quem ganha? A longo prazo, ninguém. Trazendo isso pro mundo dos projetos, qual é a garantia de sucesso de uma tarefa quando cada um só pensa no próprio umbigo? Meu conselho é um só: não seja burro. Se envolva no projeto. Deixe o egocentrismo de lado e pense no bem maior. Se você fizer seu trabalho com maestria, e se todos (ou a maior parte) tiverem essa mesma atitude, todos crescem juntos. “Ah, mas e aquele <palavrão aqui> que não fez nada? Também merece?”. Não, não merece. Mas a sabedoria popular funciona: aqui se faz, aqui se paga – mais cedo ou mais tarde. Expor os talentos é igual a atravessar um nevoeiro: continue caminhando que você vai sair (mesmo que seja tropeçando); quem fica parado morre de fome. Então, por favor, não seja estúpido. Tenha o prazer de contradizer este gênio que escreveu esta frase.

Acima de tudo, gostaria de deixar um conselho baseado nas experiências deste homem: ouse pensar diferente. A sociedade não é gentil com os ousados, mas os ganhos compensam.


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