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27 de jul. de 2012

Conheça o mago que salva brinquedos há décadas em Minas

Por: Thaís Pacheco
Em: http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2012/07/27/interna_gerais,308445/conheca-o-mago-que-salva-brinquedos-ha-decadas-em-minas.shtml

Edu Lopes dispensa a quase inevitável comparação com Gepeto, o "pai" do boneco Pinóquio, mas há 40 anos ele se dedica a recuperar bonecas, carrinhos e tudo o mais que diverte as crianças.

Valor sentimental e economia são os fatores que, segundo Edu Lopes, mais colaboram para que as pessoas queiram que seus brinquedos sejam consertados em vez de descartados  (Euler Júnior/EM/D.A Press)
Valor sentimental e economia são os fatores que, segundo Edu Lopes, mais colaboram para que as pessoas queiram que seus brinquedos sejam consertados em vez de descartados

Imagine você ser criança e seu pai ser dono de uma oficina de conserto de brinquedos. Assim foi a infância de Bruna e Felipe, hoje com 17 e 21 anos, filhos de Edu Lopes. Para a criança, é quase o paraíso. Para o pai, depois de um tempo, pode até gerar uma dose de saudosismo, mas dos bons, daqueles de quem tem as melhores lembranças e muitas histórias para contar.


“A gente envelhece e vai ficando mais emotivo. Me lembro quando Bruna tinha 12 anos, entrou na minha loja e pediu para brincar com umas Barbies que estavam em um canto. Deixei, ela ficou algumas horas e foi a última vez em que brincou. Dois dia depois, virou mocinha e esqueceu as bonecas”, recorda Edu.



A infância dos filhos, cercada de brinquedos, foi diferente da do pai. Nascido em Belo Horizonte, se mudou para Montes Claros ainda pequeno, quando o pai resolveu voltar para a terra e ficar perto da família. Por lá não havia brinquedos. “O que tinha muito era fome”, conta ele, sem rodeios, lembrando que a experiência de passar fome é “horrível”. 



Quando Edu tinha 10 anos, sua família decidiu voltar para a capital. Dali para a frente, tudo se ajeitaria. As duas irmãs se mudaram para Goiânia. Uma virou esteticista e a outra, empresária. Já o irmão gêmeo  tornou-se engenheiro civil. “Ele é mais velho que eu 15 minutos. Tanto que ficou mais alto e mais forte”, brinca o mais novo. É assim que Edu se mostra. Um sujeito sério, que custa a dar um sorriso, mas dono de um humor discreto e de alto nível.



Talvez seja seu lado criança falando mais alto. Prestes a completar 40 anos na mesma profissão, afirma sem pestanejar: adulto que encosta em brinquedo vira criança. E é isso que o move. Questionado sobre o que o faz levantar todos os dias para consertar brinquedos, ele nem precisa pensar muito. “Ver uma criança sorrir. É legal, gratificante. E ver o freguês feliz também. Há muitos pais que trazem o brinquedo do filho para consertar porque gostam dele mais que o próprio menino que ganhou”, relata.



Apesar de toda a magia, essa visão de empresário também é clara numa conversa com Edu. Seu primeiro emprego foi como vendedor de colchas, depois, trabalhou na Prefeitura de Belo Horizonte, em serviços gerais. Um dia, o irmão gêmeo, que era funcionário do escritório da Estrela, fabricante de brinquedos, em Minas Gerais, convocou o mais novo. 



Era começo da década de 1970 e Edu garante ter levado 15 dias para aprender o ofício de consertar brinquedos. Depois de três anos na empresa, passou a comandar a equipe que prestava assistência técnica e garantia na Estrela para todo o estado e trabalhar ao lado de promotores no escritório em BH. Edu acredita que por volta de 1987, as coisas mudaram na empresa. A Estrela fechou o escritório em BH e fez a oferta. Ele ficaria com a infraestrutura para realizar os consertos e prestar assistência e garantia e poderia receber produtos das concorrentes. 



CHINESES Desde então, a Oficina dos Brinquedos atende em BH a crianças e adultos que nutrem por seus brinquedos verdadeiro valor sentimental. Alguns sim, prezam pela economia de consertar em vez de comprar um novo. Mas a maioria dos clientes, os 40 anos de Edu no ramo garantem, aparecem por razões sentimentais. Especialmente após a chegada da China a esse mercado. “Desde que a Estrela foi embora, houve uma queda bem grande e os brinquedos já não são tão bons. Ninguém mais faz brinquedo, só importa da China. Perdeu a magia. Uma boneca como a Bate Palminha, você desmonta e vê que é artesanal, hoje, coloca-se um chip e uma memória e a boneca faz tudo. Perdeu o encanto”, lamenta.



Ele lembra que uma fabricante, a Bandeirante, ainda é quase toda nacional, embora tenha componentes chineses, mas é uma das marcas que mais chegam às suas mãos. Edu presta assistência técnica autorizada e garantia a diversas marcas. Além da Bandeirante: Estrela, Mattel, Magic Toys, Power Wheels, Biemme e Home Play. 



Estoque e coleção



Edu Lopes não coleciona brinquedos e garante não se apegar a eles. Se tiver objeto de colecionador e alguém desejar comprar, vende. “Esse é meu negócio”, explica. Brinquedos esquecidos pelos donos esperam até um ano na oficina. Se o proprietário não aparecer, podem ter três fins: desmonte para uso de peças, venda ou doação para uma creche. Aliás, as creches são boas parceiras. Levam para Edu brinquedos fora de uso cujo único e último fim é o desmanche. Antigos clientes também doam. Hoje, na oficina, há duas bonecas Bate Palminha. A última vez em que Edu as viu foi há cinco anos, quando as consertou. O dono não as quer mais e as vendeu para que sejam revendidas. A Oficina dos Brinquedos tem mais dois funcionários, um para recepção e logística e outro técnico que, ao lado de Edu, conserta os brinquedos.



Clientela é amiga e fiel



Entre os clientes do especialista em consertar brinquedos Edu Lopes há pais, mães, tios, avós e adultos sozinhos, os colecionadores, que costumam contar boas histórias a ele. Certa vez, uma mulher chegou à porta de sua loja num carro importado com motorista. Desceu, entregou uma boneca e avisou que ela ia fazer aniversário e precisava ser consertada para a festa. “Era uma senhora muito bacana e educada. Disse que a boneca tinha mais de 40 anos e ganharia uma festa, inclusive com as amigas que também brincaram com ela. Eu recebi o convite, mas infelizmente não pude ir, porque tinha outro compromisso”, diz um orgulhoso Edu, que dedica a vida a resgatar memórias e bens preciosos. 



Os clientes são fieis. A Oficina dos Brinquedos já teve quatro endereços e, cada vez que se muda, leva os antigos e atrai novos clientes. “O pessoal fala que não faço propaganda, mas não preciso. Os lojistas fazem por mim. Além dos clientes que sempre vêm, o pessoal das lojas sempre me indica e dá meu cartão, até porque, quando eles precisam de um favor, eu faço de graça”, explica Edu. Cortesia para cativar freguês é o forte dele. “Tem gente que chega com brinquedo de R$ 1,99 para consertar. A gente dá um jeitinho e não cobra nada”, conta, sem nenhum requinte de ganância.



Só o que ele não conserta são helicópteros e vídeogames, o resto, pode trazer. Se não tiver as peças necessárias em estoque, manda buscar na fábrica ou garimpa no site Mercado Livre. Em uma hora na oficina, foi possível ver quatro clientes entrarem. Um, em busca de bateria para um carrinho elétrico, dois por um carrinho de controle remoto e uma quarta cliente, atrás de parabrisa para o carrinho do filho. E ela já saiu encomendando a lanterna do veículo, que o menino quebrou.



Sem segredo

Um brinquedo pode ser consertado em 15 minutos ou mais de 24 horas. “Às vezes, você trabalha o dia inteiro nele e não consegue resolver. No dia seguinte, mexe 10 minutos e está pronto”, relata Edu, que já perdeu as contas de quantos brinquedos consertou e não consegue eleger um mais difícil. Atualmente, recebe, no mínimo, 30 brinquedos por mês para socorrer.



A comparação com Gepeto, o “pai” do boneco Pinóquio na história da Disney, ele dispensa. “Acredita que pouca gente fala isso para mim? Mas ele não tem nada a ver comigo. Ali, o que vale é só a magia do desenho.”



E assim segue a vida de Edu Lopes, trabalhando de segunda a sexta-feira, geralmente das 8h às 21h, e aos sábados, das 9h às 16h, antes e depois de abrir a oficina. E sabe-se lá até quando. “Não sei o dia de amanhã, mas não tenho planos de parar”, avisa. Os brinquedos agradecem. (TP)


Prezados, a loja funciona na Av. Brasil, Nº 306 - Bairro Santa Efigênia - Tel: 3201-0988 - Cel: 9721-8768

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