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11 de jul. de 2012

O CENÁRIO DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO EM 2012: PARTE II – CAUSA, EFEITO E REVERSÃO!

Por: Rodrigo Campos
Em: http://degestao.com/2012/07/10/causa-efeito-e-reversao/


Em 3 de janeiro-2012 publiquei um artigo no qual fiz uma breve análise sobre a indústria da construção no Brasil (http://degestao.com/2012/01/03/a-natureza-eh-sabia). Nele busquei estabelecer semelhanças e diferenças entre o momento atual e o Milagre Econômico vivido na década de 70, além de destacar percepções como o risco causado pelo endividamento pela alavancagem baseada no portfólio de contratos, o foco apenas em faturamento, a baixa rentabilidade e perda da eficiência operacional e na gestão das empresas desse segmento.
Devo dizer que infelizmente vi confirmadas essas percepções pela análise dos últimos balanços e pelos movimentos que venho atentamente observando junto ao mercado nesses últimos meses. Não foram poucas as especulações sobre empresas a beira do colapso financeiro, sendo que algumas realmente se confirmaram. Esse cenário provocou insegurança entre contratantes, conflitos entre parceiros, frisson em concorrentes, insegurança em prestadores de serviços e na cadeia de fornecedores e desconfiança no mercado financeiro de modo geral.
Porém, é necessário fazer distinção entre as causas e, correndo o risco de ser simplista, tentarei organizá-las em dois grupos. No primeiro, podemos colocar as empresas que tenham mantido seu foco no Governo que foram afetadas pela crise política no Ministério dos Transportes e no DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) em 2011 o que gerou a paralisação de novas licitações, a revisão de contratos e o congelamento das reivindicações de aditamento. Esse grupo sofre pela escassez e pela disputa desequilibrada entre as pequenas e médias empreiteiras que agora disputam contratos de baixo valor para manter ativa suas operações.
O outro grupo, posicionado no sentido oposto, sofre pelo excesso. Nele estão as empresas que ingressaram no Clube do Bilhão e povoaram seu portifólio com contratos de altíssimo valor e de equivalentes riscos e de baixa rentabilidade. Nesse grupo concentra-se o maior risco, pois, é nele que estão a maior parte das empresas que cometeram o “pecado” da alavancagem.
O deslumbre pelas altas cifras e a simplificação quase irresponsável da complexidade que envolvem os contratos em moldes EPC (Engineering, Procurement and Construction) em boa parte justificam esse cenário. A outra deve ser atribuída aos fatores externos causados pela crise internacional, a valorização do dólar frente ao real com impacto sobre as importações, além do fator político que ao mesmo tempo em que criou essas oportunidades no passado penaliza o presente por razão das falhas vindas de projetos tecnicamente imaturos.
Não acredito que o “apocalipse” está próximo simplesmente porque não existe nenhum elo dessa cadeia que se beneficie dele. Entendo que a paralisação de obras não interessa ao Governo que tem nesse tipo de investimento um dos pilares para fazer girar a economia nos afastando da crise que assombra o mundo e que também não deve interessa-lo que empresas de médio e grande porte quebrem, pois, além do efeito cascata sobre o mercado, haverá o impacto social causado pelo desemprego. O caos não interessa aos contratantes e, nesse caso, destaco a Petrobras, que tem fama de algoz, mas deve preocupar-se em fazer cumprir seu planejamento para não inviabilizar sua meta de produção e, consequentemente, sua avaliação de valor junto aos seus investidores. À Petrobras cabe, do meu ponto de vista, o papel de rever tecnicamente contratos promovendo equilíbrio de modo que seja possível controla-los dentro de um orçamento coerente e ainda o de rever sua a relação com as empresas epcistas. O Governo muito pode contribuir se apenas não atrapalhar esse movimento que já está em curso.
Caberá às empresas a lição mais penosa que consiste em se protegerem das armadilhas causadas pela própria vaidade de seus acionistas e pelo excesso de otimismo por parte de diretores, sendo que ambos desejaram a qualquer custo obter o ingresso de entrada no Clube do Bilhão fiados em modelos de reversão de cenário que não mais existem.
A essa altura o otimismo irresponsável deve dar lugar ao enfrentamento da realidade por estratégias coerentes, planejadas e implementadas pelo trabalho sistemático. Em cenários de crise é comum que executivos assumam posição de autoproteção disparando ações mais norteadas pela comodidade do que pela racionalidade. Há ainda aqueles que tiram proveito para a autopromoção e se colocam como heróis atrapalhados ao invés de exercer a liderança fundamental em momentos assim. De qualquer forma, essa é uma oportunidade excelente de observação e formação de conceitos para decisões sobre o corpo executivo e o planejamento futuro da organização, sobretudo para os acionistas.
Será necessário cortar na própria carne, o que deve ser feito com cautela para não promover carnificina ou hemorragia interna que possa matar ou paralisar a empresa. É evidente que cada situação merece uma avaliação pontual, mas acredito que a solução da crise a qual me refiro, de modo geral, passe pela redução de custos que sejam realmente desnecessários e que tenham relevância, pela reavaliação do portfólio de contratos onde se deve considerar a devolução ao contratante ou o repasse para parceiros quando for essa a indicação, pela mudança do perfil da divida alongando-a tanto quanto seja possível para reorganização no curto prazo do fluxo de caixa para que ele seja suficiente para sustentar a operação e execução dos contratos vigentes e não apenas para amortizar juros, pela preservação de ativos de modo a criar garantias de longo prazo e gerar proteção aos acionistas e, principalmente, pelo investimento no aumento e retenção da competência técnica e de gestão da empresa. Infelizmente, é pratica comum o corte em áreas que poderiam gerar conhecimento sobre a organização, ferramentas e informações adequadas para tomada de decisões contribuindo sobremaneira para o processo de solução e transição da crise.
Minha expectativa é que no segundo semestre perceberemos claramente muitos movimentos no sentido de reversão da crise, o que me faz deduzir que 2012 não será o ano dos grandes números como vimos nos últimos, mas sim um período dedicado a volta da busca pela rentabilidade. Inclusive, não deve ser surpresa que a Construcap que o foi destaque da indústria da construção na edição de 2012 da revista Exame Melhores & Maiores seja justamente a empresa que teve queda de 26,2% no seu faturamento, mas aumentou sua rentabilidade para 27% o que foi 3 vezes maior que a  média obtida por suas concorrentes.
Por certo, essa crise fará suas vitimas e também abrirá portas para as empresas mais ágeis e preparadas. Já dizia Charles R. Darwin, em sua teoria da evolução das espécies que:“…sobrevivem as espécies melhor adaptadas”. Reitero minha preocupação com a organização do conhecimento interno nas empresas e quanto a capacidade técnica e de gestão para a execução de contratos em moldes EPC. No Brasil, existem pouquíssimas empresas preparadas para enfrentar esse complexo desafio. Sobretudo, é preciso que o segmento da indústria da construção se desperte ainda mais para o domínio da gestão em todos os seus aspectos e abrangência visto que o jogo agora parece ser mais técnico que comercial, concordam?

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