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10 de jul. de 2012

Se implantar processos fosse fácil…

Por: 
Em: http://www.tiespecialistas.com.br/2012/06/se-implantar-processos-fosse-facil/


O objetivo de melhorar os processos de uma organização deve ser tratado com cautela e é exatamente o que pouco se vê em muitas das iniciativas de boa parte das organizações. Incluindo grandes organizações.
Participo de fóruns de e-mails diversos há alguns anos, talvez uma das primeiras iniciativas de medias sociais, junto com as salas de bate-papo. Estas segundas mais para a troca de impressões pessoais, enquanto que muitos fóruns de e-mails objetivam um pouco mais as trocas de impressões profissionais.
Perdi as contas de quantas vezes alguém surgiu em um destes fóruns com alguma variação da seguinte pergunta: “Minha organização me colocou como responsável pela melhoria dos processos. Por onde eu começo?”.
O profissional quer buscar conhecimento, por isso eu não costumava responder no fórum, apenas diretamente à pessoa: O primeiro passo é contratar alguém (pessoa ou consultoria) que saiba o que está fazendo e não encarregar uma pessoa que não possui este conhecimento para liderar um projeto desta envergadura.
E isso é recorrente até hoje. Me preocupa muito o quão despreparadas estão as pessoas que são colocadas para serem responsáveis por um projeto desta importância.
Porque o que deverá ocorrer na sequência será um projeto mal implantado, que não trará os resultados adequados à organização e alguém da alta direção vai repetir “Não falei? Isso só serve para gastar dinheiro, mais nada!”.
A mentalidade do brasileiro precisa mudar com relação a este tipo de coisa. Temos uma mania de fazer as coisas aos trancos e barrancos apostando no “vai dar tudo certo no final”. Não dá certo. Só alguns casos isolados acabam surtindo efeito, mas a maioria resulta em algo desastroso.
Quando encontramos algumas organizações que sabem da necessidade de se ter uma pessoa com experiência para liderar este tipo de projeto, querem que você faça tudo sozinho.
Recebi uma ligação de uma organização de renome no cenário de TI há algum tempo atrás. Tinham uma oportunidade para implantar as áreas de processo do CMMI e com vistas a biblioteca ITIL. “Legal, tenho experiência com CMMI e ITIL (e neste segundo caso sou certificado Foundation e ITIL Master)”. Não conheciam o CMMI for Services, mas isso não importava naquele instante.
Queriam alguém que já tivesse participado de implantação, na prática. Opa, é comigo mesmo: participei de implantações de CMM, CMMI e MPS.BR, além de ITIL. “E sou experiente no Gerenciamento de Projetos (e PMP), algo que servirá na gestão do projeto de implantação e nas definições de áreas de processos do CMMI que abordam justamente o gerenciamento do projeto (gestão e controle)”.
Foi quando me perguntaram o que eu faria dentro deste projeto de implantação do CMMI.
A princípio não entendi a pergunta. Então me lembrei de um projeto: eu estava atolado com o gerenciamento do projeto, correndo atrás das respostas aos riscos, tirando as pedras do caminho da equipe, verificando se os indicadores não estavam indo para o buraco, defendendo o escopo, gerenciando mudanças de requisitos, gerenciando conflitos na equipe, planejando as próximas fases do projeto quando o cliente quis conhecer a equipe do projeto e tivemos um encontro.
- E você, faz o que? – me perguntou após eu apresentar a equipe e as funções de cada um.
- Gerencio o projeto – respondi sem entender direito a pergunta.
- Sim, mas o que você faz no projeto, além disso? – perguntou-me insistindo.

Para ele isso era incompreensível “só gerenciar o projeto”. Até reclamou “por isso este projeto está tão caro”. Não tive dúvidas que era o mesmo caso, desta vez ao telefone.
Expliquei que gerenciar um projeto de implantação de um modelo de qualidade como o CMMI já traz atividades o bastante para me ocupar.
“Ok”. Foi a resposta, em um tom que dava a impressão que a pessoa sentiu-se enganada.
Implantar as áreas de processo de um modelo como o CMMI não é abrir o livro publicado pelo SEI e ir acompanhando com o dedo linha por linha para criar um processo de desenvolvimento que abrace todas as práticas obrigatórias. Até porque isso não dará certo mesmo, pois existe a máxima pregada por quem conhece o CMMI: o modelo diz O QUE fazer e não COMO fazer.
É por isso que não se pode colocar o peso de uma implantação complexa destas nas costas de uma pessoa que não tenha esta experiência.
As organizações podem e devem formar pessoas dentro delas mesmas, mas existem limites. Estes limites estão exatamente no momento em que a experiência prática pode dar uma resposta que não se encontra em livros. Quem não possui experiência deve participar da equipe de implantação do modelo, mas não lidera-la.
Estou fazendo um curso que culminará com a certificação Six Sigma Green Belt. Nele o instrutor disse algumas vezes: se fosse fácil corrigir um determinado problema ou implantar um determinado processo, já teria sido feito.
Qualidade e processos devem ser levados a sério dentro da organização e não pegar um livro ou um corpo de conhecimento para servir de receita de bolo.
Porque se implantar processos fosse fácil assim, alguém já teria feito na sua organização.

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