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Fatores como educação, distribuição de renda, segregação racial, origem familiar e até capital cultural são responsáveis pela mobilidade de classes sociais no país, que avançou, mas ainda precisa crescer mais, segundo especialistas
por Lucas Vasques *
Recentemente, a Universidade de Harvard, uma das mais tradicionais dos Estados Unidos, desenvolveu uma pesquisa sobre o que está impedindo o povo norte-americano de realizar o chamado Sonho Americano, que pode ser definido como a igualdade de oportunidades, que permite que todos os moradores do país atinjam seus objetivos na vida somente com seu esforço e determinação, além, é claro, de representar a busca de status e de poder aquisitivo maior para aquisição de bens de consumo. O resultado apontou cinco fatores que, atualmente, impedem a ascensão social na terra do Tio Sam: estrutura familiar (crianças filhas de mães solteiras têm, significativamente, menos probabilidade de conseguir mobilidade social); segregação racial e econômica (características importantes das comunidades que não conseguem atingir essa mobilidade); qualidade da educação (nível baixo das escolas em suas comunidades); capital social (comunidades que possuem maiores índices de religiosidade, engajamento cívico e participação eleitoral estão mais propensas à ascensão social); disparidade social (está correlacionada aos baixos níveis de mobilidade social).
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Pesquisa recente, elaborada pela Universidade de Harvard, indica fatores que impedem a população dos EUA de realizar o Sonho Americano |
Diante desse quadro, é possível traçar um paralelo com a realidade atual do Brasil? Para o professor Carlos Antonio Costa Ribeiro, PhD em Sociologia e pesquisador do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), a pesquisa de Harvard foi feita em comunidades pobres e usando métodos estatísticos para determinar os fatores relacionados às chances de mobilidade ascendente dessas pessoas. "Entre essa camada da população, alguns conseguem escapar da pobreza e outros não. O trabalho mostrou que certos fatores são importantes, como por exemplo: a estrutura familiar, a segregação racial, a qualidade da educação e as redes de relações sociais dos indivíduos (capital social). Também sabemos que esses fatores são importantes no Brasil. Dentre eles, o mais relevante é a educação. Sem ela, escolaridade e conhecimento adquirido em instituições de ensino, é praticamente impossível sair das classes mais baixas. É claro que há pessoas que conseguem subir na vida sem educação e escolaridade. Por exemplo, jogadores de futebol, artistas, músicos etc. Algumas vezes, conseguem uma significativa ascensão social sem ter escolaridade alta. Certos empreendedores também conseguem isso, por meio de negócios. Contudo, para a grande maioria da população, a forma mais eficiente de obter ascensão social é por intermédio do sistema educacional."
O mais relevante é a educação. Sem ela, escolaridade e conhecimento adquirido em instituições de ensino, é praticamente impossível sair das classes mais baixas. É claro que há pessoas que conseguem subir na vida sem educação e escolaridade
As ocupações e posições mais bem remuneradas (em média) no mercado de trabalho, afirma o professor, são aquelas que exigem algum tipo de educação formal. "Por exemplo, é impossível ser engenheiro, médico ou torneiro mecânico sem passar por algum tipo de escola (de ensino médio ou superior). Portanto, para ter mobilidade ascendente, a educação é fundamental. Além desse aspecto, existem diversos fatores sociais que dificultam ou contribuem para a mobilidade social. Sabemos, por exemplo, que as condições econômicas, sociais e culturais das famílias onde as pessoas crescem são fundamentais. Essas condições influenciam, de diversas formas e desde a infância, as chances de mobilidade social dos indivíduos. Famílias bem estruturadas, em que pai e mãe se dedicam aos filhos, ajudam na mobilidade social, por exemplo. O nível educacional dos pais (às vezes, usado como uma medida indireta do que os sociólogos costumam chamar de capital cultural) é fundamental para que as pessoas consigam ascender socialmente.
Famílias bem estruturadas, em que pai e mãe se dedicam aos filhos, ajudam na mobilidade social, por exemplo. O nível educacional dos pais (às vezes, usado como uma medida indireta do que os sociólogos costumam chamar de capital cultural) é fundamental para que as pessoas consigam ascender socialmente
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Costa Ribeiro: "A pesquisa de Harvard foi feita em comunidades pobres e usando métodos estatísticos para determinar os fatores relacionados às chances de mobilidade ascendente" |
Ribeiro cita outro exemplo: "Às vezes, observamos pessoas que vêm de famílias com pouco capital econômico, mas muito capital cultural (os pais têm alguma educação formal), terem mais chances de subir na vida do que aqueles que vêm de famílias em que os pais não estudaram. Esses fatores são muito importantes, embora seja muito comum a acumulação de características ou capitais nas mesmas famílias. Quando pais ou mães têm mais escolaridade também tendem a ter mais renda ou alguma riqueza. Embora renda e educação, por exemplo, sejam coisas distintas, elas estão altamente correlacionadas. Alguns cientistas sociais e economistas opõem esses fatores, mas na verdade elas são complementares".
Portanto, continua o sociólogo, características das famílias onde as pessoas crescem e da escolaridade formal que recebem são os principais fatores determinantes para as chances de mobilidade dos indivíduos. "É preciso melhorar o sistema educacional, mas também as condições das famílias. As duas coisas são importantes. Por um lado, é fundamental diminuir a desigualdade social (que pode ser medida pelas diferenças de renda, ocupação e educação dos pais dos indivíduos) que caracteriza as famílias em que as pessoas crescem. Por outro, é importantíssimo investir na qualidade da educação adquirida nas escolas, ou seja, é necessário diminuir a desigualdade que existe na qualidade da educação oferecida para as crianças e jovens. Sabemos que crianças que frequentam boas escolas têm chances muito maiores de mobilidade social do que aquelas que vão a escolas ruins."
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Pastore: "No passado, o grosso da mobilidade era entre pessoas de origem rural, que vinham para as cidades. Hoje, a maior parte se dá na própria cidade" |
Mas, afinal de contas, a definição de que um cidadão pertence a determinada classe social está vinculada ao acesso a qualquer tipo de bem ou recurso ou há outros aspectos que determinam o fato? Segundo o professor, há um grande debate sobre a questão das classes sociais no Brasil. As posições são, por vezes, colocadas em planos antagônicos. "Entretanto, em minha opinião, não há, realmente, uma oposição. Por exemplo, alguns economistas e o próprio governo usam a renda familiar per capita e/ou do trabalho para definir as classes sociais, ou econômicas, como costumam dizer. Essas abordagens mostram que houve uma grande expansão do que chamam de 'nova classe média' no Brasil. Em contraste, alguns sociólogos afirmam que o mais importante são as características culturais, e até afetivas, dos indivíduos mais pobres e dos mais ricos. Enquanto os pobres não têm o capital cultural necessário para ser aceitos nas camadas mais altas, os ricos já trazem esse capital de suas famílias de origem. Em nosso país, alguns sociólogos e economistas opõem, de forma muito forte, a visão sociológica da visão econômica sobre o que seriam as classes sociais. Esses autores opõem renda, ocupação (ou posição no mercado de trabalho) e cultura como sendo a principal forma de diferenciar as classes sociais. Também contrastam métodos quantitativos de análise a abordagens mais simbólicas e de interpretação dos significados, para analisar as situações de classe no Brasil", avalia Ribeiro.
"Minha opinião é completamente distinta. Não vejo oposição entre esses fatores. Ou seja, a posição de classe das pessoas e famílias envolve tudo: renda, riqueza, cultura, educação e ocupação. A estratificação social de qualquer sociedade é multidimensional. As famílias são diferentes e desiguais não só em um único aspecto, mas, sim, em vários. Muitas vezes, esses aspectos estão altamente correlacionados, do ponto de vista estatístico, o que faz com que estudos sobre a desigualdade de renda, por exemplo, sejam uma maneira aceitável (porém, não perfeita) de descrever posições de classe na sociedade", opina o professor da UERJ.
A segregação racial ainda é um dos pontos mais determinantes para a dificuldade de mobilidade de classes sociais
Para ele, é importante lembrar que no Brasil há uma forte concentração de riqueza, educação e renda no topo da hierarquia social. Ou seja, o que se costuma entender por classe média alta é muito diferente do que vem sendo chamado de "nova classe média". "De certa forma, esta última está mais perto dos pobres do que da classe média alta. A desigualdade no Brasil é caracterizada por forte concentração no topo, e menos desigualdade entre o meio e a base da pirâmide social."
Alguns economistas e o próprio governo usam a renda familiar per capita e/ou do trabalho para definir as classes sociais. essas abordagens mostram que houve uma grande expansão do que chamam de "nova classe média" no Brasil. em contraste, alguns sociólogos afirmam que o mais importante são as características culturais, e até afetivas, dos indivíduos mais pobres e dos mais ricos
Apesar das divergências em relação à definição de classes sociais, há, segundo Ribeiro, alguns aspectos que se podem medir melhor do que outros e, por isso, existem condições de se fazer estudos mais representativos, usando essas características, às quais se podem mensurar. "É muito difícil medir motivações e emoções das pessoas. Certamente, essas coisas são importantes para a mobilidade social. Alguns estudos mostram que os cuidados que crianças menores de cinco anos recebem são fundamentais para a mobilidade social. Por exemplo, crianças que tiveram mães atenciosas e cuidadosas, nos primeiros anos da infância, tendem a ter mais chances de mobilidade social ascendente (mesmo partindo de famílias pobres) do que crianças que não tiveram esse tipo de estímulo em sua primeira infância. Acho que essas pesquisas estão mostrando que aspectos afetivos e emocionais são fundamentais para a mobilidade social. Esses estudos foram feitos, principalmente, por economistas e psicólogos. E, muitos deles, são bem sofisticados, do ponto de vista estatístico. Os sociólogos deveriam prestar mais atenção a esse tipo de pesquisa, ao invés de, puramente, desqualificar estudos quantitativos, dizendo que são pseudocientíficos", critica.
E ele não para por aí: "Os economistas, por sua vez, também poderiam prestar mais atenção em pesquisas qualitativas e estudos de casos, feitos por alguns sociólogos e antropólogos. Entrevistar as pessoas é muito importante para saber como se sentem em relação às suas condições de classe e chances de mobilidade. Embora essas entrevistas não possam, em geral, ser generalizadas, porque não vêm de amostras representativas da população, elas podem ser muito importante para ilustrar alguns pontos relevantes e levantar hipóteses de análise. O problema é que alguns sociólogos tendem a desqualificar pesquisas quantitativas, e os economistas não consideram as qualitativas como relevantes. Acho importante combinar as perspectivas de forma aberta, ao invés de colocá- las como ontologicamente distintas. Essas visões acirradas não ajudam a entender as situações de classe e a desigualdade na sociedade brasileira".
Em suma, afirma o professor, os estudos sobre desigualdade de renda são muito importantes e ajudam a entender a estratificação social na sociedade brasileira. "Entretanto, também podem ser complementados por estudos mais qualitativos sobre emoções e afetividade das pessoas, nas diferentes situações de classe. Essas perspectivas podem ser complementares. Classes sociais podem ser definidas por uma combinação de renda, riqueza, capital cultural e diversas outras características."
É importante lembrar que, no Brasil, há uma forte concentração de riqueza, educação e renda no topo da hierarquia social. Ou seja, o que se costuma entender por classe média alta é muito diferente do que vem sendo chamado de "nova classe média". De certa forma, esta última está
mais perto dos pobres do que da classe média alta
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Há pessoas que conseguem subir na vida sem educação e escolaridade, como, por exemplo, jogadores de futebol, artistas e músicos |
"Nova classe média"?Informações oficiais dão conta de que 30 milhões de brasileiros alcançaram a ascensão social nos últimos anos. No entanto, segundo alguns especialistas, o fato não teria produzido uma "nova classe média", mas, sim, uma classe social diferente, pelo fato de que a classe média estabelecida é a dominante, pois se forma pela apropriação de capital cultural. "Houve aumento da renda média e diminuição da desigualdade no Brasil. Isso é inegável e é positivo. O que vem sendo chamado de 'nova classe média' é esse grupo, que melhorou sua renda nos últimos 10 ou 15 anos, o que também é muito positivo. No entanto, chamar esse grupo, que ascendeu em termos de renda, de 'nova classe média' é certo exagero. Ou melhor, é uma liberdade linguística. Essa parcela avançou, mas continua tendo nível educacional muito baixo, por exemplo. Sem educação de qualidade, a maioria jamais chegará ao que costumamos, popularmente, chamar de 'classe média alta'. O segmento mais próximo de uma espécie de elite é constituído por profissionais e administradores que possuem (a maioria, pelo menos) educação de nível superior."
Segundo o sociólogo, educação de nível superior não é sinônimo de "capital cultural", mas é uma forma de adquiri-lo. "Não há dúvida de que esse capital cultural é fundamental, mas acho que é possível atingi-lo mesmo vindo de uma origem de classe muito baixa. Temos alguns exemplos de pessoas que conseguiram isso, embora a grande maioria dos pobres não alcance posições mais altas na estrutura de classes da sociedade brasileira. Há uma forte correlação entre classe de origem (da família) e classe de destino (posição que os indivíduos alcançam). A boa notícia, contudo, é que a força desse processo não é mais a mesma no Brasil. Minhas pesquisas indicam que essa correlação está diminuindo, desde a década de 1970 até hoje. As coisas estão melhorando, embora o Brasil ainda seja um dos países mais rígidos do mundo em termos dessa correlação entre classes de origem e de destino (seja medindo por renda dos pais e dos filhos ou por ocupação ou por educação)."
É muito difícil medir motivações e emoções das pessoas. Certamente, essas coisas são importantes para a mobilidade social. Alguns estudos mostram que os cuidados que crianças menores de cinco anos recebem são fundamentais para a mobilidade social
Em relação à ascensão social significativa de um bom número de brasileiros nos últimos anos, Ribeiro reconhece, mas se diz contrário às visões triunfalistas. Para ele, a desigualdade social e de classes no nosso país continua sendo enorme. "Não há por que acharmos que estamos vivendo uma situação maravilhosa, embora, também, devamos admitir que as coisas estão melhorando bastante em termos sociais. Mesmo assim, o Brasil é um dos países de renda média com o maior percentual de mão de obra sem qualificações mínimas. Apesar de nosso sistema educacional ter se expandido muito, nas últimas décadas, ainda deixa a desejar. Também houve a criação de inúmeras posições de empregos melhores (com carteira assinada). Entretanto, ainda há a presença marcante de um enorme setor informal, além de empregos que não exigem qualificações. Há muito o que melhorar e, por isso, não há motivo para triunfalismo. Contudo, acho que não podemos negar que houve alguma melhora. Em suma, prefiro uma posição mais moderada. Nem triunfalismo, nem pessimismo. É melhor ser realista e observar o avanço que ocorreu e o que ainda deve avançar. Melhorar a educação e diminuir a desigualdade de renda são os pontos fundamentais", completa.
MeritocraciaNa opinião de Rafael Guerreiro Osório, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o trabalho desenvolvido pela Universidade de Harvard não mostra nada de novo. Para ele, todos os fatores indicados na conclusão são determinantes clássicos para manter as pessoas na camada social inferior. No entanto, esse tipo de pesquisa é importante e deve ser feita regularmente, porque o quadro poderia ter mudado. Nos Estados Unidos, segundo Osório, é ainda mais importante ter esse controle, em função da necessidade de se concretizar o chamado Sonho Americano, que é muito forte na cultura norte-americana.
"O tema é um dos clássicos da Sociologia e traz um debate muito interessante. Ainda hoje, com a justificativa da evolução da democracia liberal e da economia capitalista, ao longo dos anos, a tese que predomina é a da meritocracia. Essa teoria justifica certa desigualdade social, pois só quem tem méritos e se esforça o suficiente consegue ascender socialmente. O que acaba sendo uma ilusão. Um exemplo é que um cidadão pode ser um gênio, mas se for negro e tiver nascido no interior do sul dos Estados Unidos jamais vai ter oportunidades de ascensão. No entanto, ainda se acredita muito nisso. A desigualdade racial é um dos grandes problemas que impedem o desenvolvimento e a meritocracia", analisa Osório.
No Brasil, afirma o especialista, também se pensa que há meritocracia. "A prova disso é que, frequentemente, alguma revista semanal estampa, em sua capa, alguém que tenha vindo de baixo e, em função do próprio esforço, conseguiu atingir uma posição profissional de destaque na sociedade. A verdade é que são exceções. Esses casos chamam muito a atenção justamente porque fogem à regra. No início dos anos 2000, a doutora em Sociologia Celi Scalon, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), desenvolveu uma pesquisa internacional sobre tolerância à desigualdade. O Brasil apareceu como um dos países mais tolerantes em relação a esse problema."
Crianças que tiveram mães atenciosas e cuidadosas, nos primeiros anos da infância, tendem a ter mais chances de mobilidade social ascendente
Osório explica que a mobilidade social pode ser estrutural, a que mede o deslocamento na distribuição das ocupações, em função da industrialização e de uma sociedade mais urbana; e a de circulação, que é a que nos interessa mais, pois inclui o movimento ascendente e descendente, devido a outros fatores, que não mudanças na estrutura ocupacional. "É também chamada de troca, porque, conceitualmente, os que sobem são substituídos pelos que descem. Nessse caso, há um trânsito grande. Mas nem sempre isso ocorre, porque um sujeito que pertence à elite e não tem ou não desenvolve habilidades profissionais não necessariamente cai, e o de baixo, que se esforça, pode não conseguir subir. O problema central é que todos devem ter as mesmas oportunidades."
Os estudos sobre desigualdade de renda são muito importantes e ajudam a entender a estratificação social na sociedade brasileira. Entretanto, também podem ser complementados por estudos mais qualitativos sobre emoções e afetividade das pessoas, nas diferentes situações de classe. Essas perspectivas podem ser complementares
No Brasil, segundo Osório, inegavelmente, houve um aumento considerável na renda média, diminuição da desigualdade e melhora na distribuição de renda, o que proporciona aumento do padrão. "O exemplo principal é o que ocorreu com as empregadas domésticas, que tiveram uma brutal melhoria na qualidade de vida, com mais renda e conquista de direitos trabalhistas. Mas, em contrapartida, seu lugar na sociedade continua o mesmo. Ninguém que faz parte da elite, na hora de decidir sobre sua futura atividade profissional, escolhe ser empregada doméstica. Na verdade, apesar de não termos muitos estudos recentes, no meu entender há indícios fortes de que a situação está melhorando. Um dos fatores determinantes é o maior acesso ao ensino superior. Precisamos avançar muito, mas houve uma expansão grande, com a redução da desigualdade de oportunidades de acesso. Há mais vagas, o que acarreta mais gente incluída. Existe, ainda, a questão das cotas e os financiamentos estudantis para instituições particulares de ensino. Sem dúvida, isso elimina uma grande barreira", finaliza.
Para cimaNo livro Mobilidade social no Brasil, publicado em 2000, junto com Nelson do Valle Silva, o professor José Pastore, PhD em Sociologia e mestre em Ciências Sociais, observa que a mobilidade social no país era intensa, maior do que em países como Inglaterra, Suíça, Áustria, Alemanha e Itália, com predominância de uma mobilidade para cima. "Penso que o panorama continua hoje em dia, mas em sentido diferente. No passado, o grosso da mobilidade era entre pessoas de origem rural, que vinham para as cidades. Hoje, a maior parte se dá na própria cidade. Mas, em outro sentido, há semelhança. Nos dois casos, o grosso da mobilidade é de curta distância. São pessoas das classes baixas que sobem para a média inferior. A desigualdade diminuiu um pouco, graças à melhoria da educação e do salário mínimo. Contudo, o Brasil ainda é um país bastante desigual."
As empregadas domésticas tiveram melhoria na qualidade de vida, com mais renda e conquista de direitos trabalhistas. Mas seu lugar na sociedade continua o mesmo
*Lucas Vasques é jornalista e escreve para esta publicação.